Citação de citação

Autor: Adrian Sgarbi. Tempo estimado de leitura: 3',42’’Imagem: Pesquisatec

Recebi em meu Facebook um comentário de Rachel Herdy que foi para mim como que um… ops! Rachel sentiu a falta do caso do "apud" no post "Quando Citar Faz Bem". Então, volto ao tema.

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CITAÇÃO "SEM" E "COM" INTERMEDIÁRIO

Há dois tipos de citação: citação "sem" e citação "com" intermediário.

Citação "sem" intermediário é aquela em que ninguém se encontra entre o escritor e as palavras do autor que ele deseja citar. Portanto, ao colocar em meu texto as palavras de Murakami usando um livro de Murakami, o que estou fazendo é empregar uma citação sem intermediário.

Este o exemplo:

Segundo Haruki Murakami, "Escrever livros é basicamente trabalho manual. A escrita por si mesma é trabalho mental, mas terminar um livro inteiro se aproxima do trabalho manual" (H. Murakami, What I Talk About When I Talk About Running, New York: Vintage Books, 2009, p. 77).

Citação de citação é aquela em que o autor do texto não teve acesso direto às palavras que deseja citar, de modo que as alcança usando o registro de outra pessoa; uma pessoa que teve acesso ao material. É uma citação "de segunda mão" ou "com intermediário".

Este o exemplo:

"No início, eu estava planejando escrever algo alusivo, como nos meus trabalhos anteriores", disse Murakami, durante o seminário. "Mas desta vez eu desenvolvi um grande interesse em expandir em direção a pessoas reais. Então os personagens começaram a agir por conta própria. Eu estava intrigado com o relacionamento entre as pessoas." (Haruki Murakami apud Philip Maughan, em "Haruki Murakami: The Taciturn Novelist" in NewStatesman, published 7/05/2013)

O QUE SIGNIFICA "APUD"

"Apud" significa "citado por". Assim, quando transcrevo algo de Murakami em meu texto e na referência coloco 'apud Philip Maughan', estou dizendo que cheguei à Murakami pelas tintas de Maughan.

QUANDO ESTÁ BEM USAR "APUD"

Mas apud também significa que o original não é acessível. Desse modo, emprego bem apud quando existe um obstáculo que me impossibilita, em definitivo, de usar diretamente a obra que quero citar.

Eu não estava no seminário de Murakami e não existe gravação disponível ao público do evento, de maneira que apenas posso confiar na transcrição de Philip Maughan. Essa foi uma boa citação de citação. Posso usá-la, sem problemas, em qualquer trabalho sobre Murakami e não há motivo para me censurarem por isso. O valor do meu trabalho está preservado.

QUANDO NÃO ESTÁ BEM USAR "APUD"

Dado que, quando uso apud, estou dizendo ao meu leitor que a obra é inacessível ao público ou é de dificílimo acesso ao público, sempre que ela "for acessível", e uso apud, coloco-me em uma situação ruim. Porque com o seu uso estou carimbando que sou preguiçoso. E nada pior para um pesquisador do que a fama de ser um preguiçoso na pesquisa.

Além disso, todo pesquisador deve colocar o seu nome na frente do que escreve. Daí entende-se que toda citação de citação, quando mal empregada, é uma fragilidade no texto, pois comunica pouco zelo pelo próprio trabalho.

O USO TÉCNICO DA CITAÇÃO DE CITAÇÃO

Há, ao menos, duas formas de citação de citação: a de cópia literal; e a de paráfrase.

Trata-se de citação de cópia literal quando ocorre a reprodução das palavras de um autor que cita outro autor palavra por palavra.

Por exemplo:

Segundo Colin Tendant (Breaking Bad Habits in Dogs, p. 18 apud John Bradshaw, Dog Sense, p. 95), "a maioria dos cães vai se esforçar para dominar quaisquer outros cães ou humanos com quem eles entrem em contato através da linguagem corporal rosnando, mordendo ou realizando bullying físico agressivo".

Trata-se de citação de paráfrase quando são reproduzidas as palavras de um autor que reafirma as ideias de um segundo autor usando outras palavras.

Por exemplo:

Todos os cães nascem com a capacidade de executar os vários elementos envolvidos no comportamento predatório, mas em algumas raças alguns destes elementos não aparecem até a adolescência e, portanto, nunca se integram completamente com o resto do seu comportamento (Ray and Lorna Cappinger, Dogs a New Understanding, p. 98 apud John Bradshaw, Dog Sense, p. 266).

Espero que com esse post eu tenha minimizado a falta. Mas antes de encerrar, deixo o meu agradecimento, sem intermediários, à Rachel. Obrigado.

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