Como melhorar os encontros de orientação

Autor: Adrian Sgarbi. Tempo estimado de leitura: 5',02

Recebi uma mensagem da @Lucia. Ela conta que os encontros de orientação estão confusos e diz que o orientador tem boa vontade. Contudo, comenta que esperava mais dele; que ele a ensinasse mais. Hoje, os encontros são realizados por Skype. Afirma não saber bem o que fazer e sente que pode desagradá-lo tocando no assunto.

ORIENTAÇÃO RUIM OU COMUNICAÇÃO RUIM?

Na academia, é comum repetir práticas (as famosas práticas acadêmicas). Uma delas é trabalhar incansavelmente para que o orientando escreva e defenda o seu trabalho com dignidade.

O problema é que nem sempre se dedica, no meio desse caminho, algum tempo para ensinar como se pesquisa. Simplesmente, assume-se que isso é algo já sabido e o orientando, assim, é “dirigido”.

É claro que os programas de Pós-graduação oferecem no currículo a disciplina “metodologia da pesquisa”. No entanto, quando se coloca a “mão na massa” é na orientação que se depositam as esperanças de se “aprender como se faz”, como um aprendiz de ourives.

Por outro lado, suspeito que há algo também de repetição no comportamento do aluno. É que na graduação, por querer tirar boas notas, normalmente se sinaliza que está entendendo, porque se pensa que a melhor maneira de “participar” é acenando que tudo vai bem. 

O ponto é que, na Pós-graduação, a tradução disso é má comunicação; uma das piores!

Daí a minha pergunta: “- Você já disse para o seu orientador o que você gostaria de saber?”

Do que tenho colhido de informações ao logo dos anos, os orientandos esperam dos orientadores que:

  1. Transmitam experiência;

  2. Realizem orientação profissional;

  3. Ofereçam feedback construtivo;

  4. Incentivem e motivem;

  5. Que sejam acessíveis;

  6. Que disponham de tempo para discutir não apenas o projeto, mas assuntos diversos relacionados à pesquisa.

Quanto aos orientadores, eles normalmente esperam que os seus orientandos:

  1. Tenham interesse pelo tema de pesquisa e comprometimento;

  2. Assumam a responsabilidade na condução das tarefas;

  3. Sejam pontuais;

  4. Tragam ideias e materiais para as reuniões;

  5. Mantenham-se focados e que entrem em contato quando for necessário.

É da falta de alinhamento dessas expectativas que surgem os problemas mais frequentes.

O QUE FAZER?

Há coisas que podem ser feitas por você logo na próxima reunião. 

Então, vamos às dicas:

Dica 1: O mínimo de organização

Informe-se:

  • Quem toma a iniciativa de marcar as reuniões? 

  • Com que frequência? 

  • Posso entrar em contato antes das reuniões marcadas? Como?

Dica 2: Tome notas

Tome notas sobre:

  • O que foi discutido;

  • O que se espera que você faça até o próximo encontro;

  • A data provável da próxima reunião.

Se o seu orientador não mencionar esses pontos, pergunte.

Dica 3: Tire dúvidas

É importante que você diga que tem dúvidas e explique quais são. Lembre-se que na academia é comum se assumir coisas. É do seu interesse dizer que você não sabe quando não souber. Portanto, busque obter respostas:

  • Claras;

  • Detalhadas;

  • Que abordem o seu trabalho. 

Dica 4. Mantenha contato

Não desapareça. Pergunte ao seu orientador se você pode enviar emails se precisar de algo. Questione quanto tempo em média você deve esperar até ter a resposta dele. 

Dica 5. Nada de telepatia!

É fácil sentir-se perdido quando não se sabe ao certo para onde se está indo. Como a telepatia não é uma das nossas habilidades corriqueiras, o que acontece é que o aceno da cabeça (ou mesmo o silêncio) pode indicar que tudo está bem, quando não está. Então, não faça isso. Procure objetividade e verbalize o que está precisando.

SOBRE A ESCRITA    

Caso você esteja escrevendo, informe-se com o seu orientador:

  1. Quanto de material escrito, ele espera que você escreva entre 6 meses e 1 ano de orientação?

  2. Quantas revisões devem ser feitas no texto antes de enviar para o orientador ler?

  3. Quanto tempo você deve esperar para receber o primeiro retorno sobre o material remetido?

  4. Como esse retorno é feito? (Por escrito, por áudio, por encontro presencial?)

  5. O que fazer se você não entender o que foi apontado nas observações feitas?

Todos esses pontos são importantes para se manter uma boa comunicação.

Eu, por exemplo, esclareço que sábados, domingos e feriados também cabem aos orientadores. Afinal, é trabalho. Daí, não adianta enviar email na sexta-feira à noite querendo receber algo na segunda pela manhã, que isso não vai acontecer.

Além do mais, esclareço que orientadores tiram férias [1]. 

Desse modo, os orientandos já se planejam e não interpretam a falta de retorno durante as minhas férias (ou durante sábados, domingos e feriados) como falta de orientação. Por isso, entra no planejamento de orientação reuniões mais longas durante a semana quando o trabalho se intensifica.

Em resumo:

  • Prepare-se para tomar notas;

  • Esclareça todas as suas expectativas;

  • Contate o seu orientador entre as reuniões.

UM NOVO HORIZONTE

Mais uma vez: o orientador de hoje já foi orientado. Algumas vezes, o que está acontecendo é apenas repetição de comportamento. 

Assim, @Lucia, melhorando a sua comunicação com o seu orientador, você não apenas transforma em algo positivo o momento que você está vivendo na orientação, mas possibilita uma contribuição de mudança. E quando chegar o seu momento de orientar, tenha em mente a @Lucia dos tempos de pós-graduação.

[1] Note que tirar férias é questão de saúde. Laura M. Giurge and Kaitlin Woolley. Don’t Work on Vacation. Seriously. Harvard Business Review, July 22, 2020.

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